Crescendo junto
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Miguel Santos IASD Pituba |
Uma das
conhecidas obras literárias de Isaac Newton versou sobre os livros de Daniel e
Apocalipse. O material foi produzido no início do seculo XVIII, no auge de
grandes descobertas científicas que deram renome ao grande físico, matemático,
astrônomo, filósofo natural e teológo.
A sua
plena convicção no Deus Criador foi demonstrada ao declarar que
"a maravilhosa disposição e harmonia do
universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo
pode. Isto fica sendo a minha última e mais elevada descoberta".
Mas, uma
das mais eficazes citações do ilustre cientista causou e causa grande impacto, o
que é motivo de reflexão para nossos tempos, especialmente quando se analisa em
consórcio os feitos do Apóstolo Paulo em suas incursões missionárias. Afirmou
Newton que “Construímos muitos muros e poucas pontes”.
Paulo, o
apóstolo de Jesus, preocupava-se em manter grupos eclesiasticos ativos e em
permanente crescimento, como condição básica para a difusão do evangelho e
salvação de almas, nos domínios do império romano sob o qual se encontrava o
mundo civilizado.
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O evangelizador
tinha, contudo, como ameaças a intelectualização, a tradição e a múltipla
deificação, construídas sobre consolidadas bases filosóficas atenienses. Além
disso, os próprios representantes do governo romano demonstravam certo temor
com a resurgência do ideal de um novo reino libertador com a visão já
distorcida da mensagem messiânica.
Por outro
lado, via como oportunidades o seu permitido acesso àquelas culturas, a livre
pregação através da retórica e a infiltração de alguns judeus cristianizados
que às vezes serviam de semente plantadas em solos fertilizáveis.
Outros
judeus, que em tese professavam o mesmo Deus de Paulo, serviram de baluartes de
conflitos entre os missionários, os gregos e os romanos, com falsas afirmações
e oposição desvelada ao ensinamento cristão.
A descredibilidade da mensagem cristã, em algumas situações, foi assim construindo
verdadeiras barreiras ao cristianismo como em Tessalônica onde os evangelistas
renunciaram temporariamente à permanência em defesa da própria vida. Crer não
significa aceitar sem questionar, sem contestar. As dúvidas e pontos de vista
têm que “se por à vista”, sem pertubar a ordem, e com o propósito de, pelo
menos, construir conhecimento conjuntamente. Uma inadequada postura, um
comportamento antiético, a expressão inapropriada da Palavra de Deus, podem
provocar em muitos a rejeição às verdades divinas - se expulsa com isso a menor
possibilidade de aceitação de uma Verdade Salvadora.
Ao que
parece Paulo não se intimidava com obstáculos dessa natureza. Ele buscava
crescimento da igreja cristã através de formação de laços, similares aos
descritos pelo escritor Fritjof Capra, como verdadeira “Teia da Vida”, onde
exclui-se o fragmentarismo em favor do crescimento conjunto. O apóstolo de
Cristo se coloca então no ponto de ligação desses laços, que denominamos aqui
de comunidades eclesiáticas. Ou melhor, ele é o próprio ponto de ligação na
construção de relacionamentos. Nessa teia o cristão, ou o candidato à salvação,
tem que ser alguem especial e que merece atenção especial. Cristãos não são fabricados
em série, como na linha de produção da máquina industrial; devem ser moldados e
esculpidos, ou seja, tem que se por a “mão no barro”, o que na visão paulina
significa conhecer sua fonte de crença, sua história, seus problemas. Afinal,
buscar o entendimento deve ser uma parceiria em sintonia com a proposta
universal de salvação.
Tudo isso
fazia parte da essência do evangelismo da equipe paulina.
Outro
aspecto a ser ressaltado é que não se consegue formatar bons relacionamentos permanentes
sem que uma apropriada abordagem tenha sido feita ao apresentar Cristo às
pessoas. Nessa etapa do processo espiritual de evangelismo há uma verdadeira
dinâmica social. Para cada povo, cada lugar, cada momento, cada cidadão, é
necessário às vezes pensar em diferentes estratégias. Assim foi feito pelos
missionários da igreja primitiva em Tessalônica, em Atenas, em Corinto e em
Roma. Talvez não tenhamos que ir tão distante; para buscar um bom
relacionamento espiritual dentro de nossos lares é possível que haja
necessidade de estabelecer estratégias diferentes de abordagens, até mesmo na
delicada questão da existência divina.
O
relacionamento de Paulo com suas igrejas e com os cristãos é o mesmo que deve
ser praticado hoje em dia. Observe que quatro distintos aspectos estavam ali
presentes:
Parceria, com a busca
harmônica de interesses comuns;
Autoridade, com base em
postura fundamentada em preceitos éticos, morais e cristãos;
Liderança, depósito de
confiança no titular da autoridade;
Cooperação, que tem como pressuposto a
desindivualização, o pensar coletivo.
O esforço
coletivo e solidário para manter os laços, permitindo-se ser o ponto de
encontro dos elos, produz como resultado o crescimento da igreja em torno de
Cristo.
E, se
todo o empenho em relacionar-se não se concretizar em resultados, parece-nos
inócuo. Esses resultados, às vezes, provém simplesmente de uma avaliação feita
pelas partes envolvidas. O bom ou ruim resultado desta avaliação, por sua vez, decorre
de uma empatia originada na aceitabilidade do indivíduo, ou do objeto que ele
apresenta. Isto é fruto de transformação substancial, e não somente formal, do
avaliador.
Sendo
assim, o relacionamento sólido do cristão com Cristo, com sua igreja e com cada
membro é uma avaliação positiva do evangelismo de resultados.
Com relacionamentos dirigidos pelo Espírito de Deus
construimos muitas pontes; com o olhar para o mundo construimos muitos muros, e
não raramente destruimos as pontes construidas.
Miguel Santos
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